PRIMEIRO CAPÍTULO - PARTE 02

11/05/2013 16:18

 

A SETE CHAVES

PRIMEIRO CAPÍTULO  / PARTE 02

 

O cenário na Praça havia mudado consideravelmente desde o vulto da Renault Master. Já passavam das quatro e meia da manhã quando uma equipe da DHPP chegou ao local do crime no comando do delegado Aroldo Mello e sua equipe. Aquele senhor de 52 anos atuou de forma histórica como advogado em alguns casos no país. Muito competente e com um faro investigativo nato, não conseguiu enxergar-se fora do ambiente de inquéritos e investigação. Por isso foi nomeado delegado mesmo que as dificuldades com uma perna mecânica, presente de um acidente um ano antes, fosse motivo de muitos o aconselharem a aposentadoria. Descanso era tudo que ele não queria. Prova disso era estar de pé às quatro da manhã no meio da Sé coordenando sua equipe. Ao todo eram nove pessoas. Um fotógrafo técnico-pericial, dois peritos criminais, três policiais, dois investigadores e um escrivão. Faltava somente uma pessoa para concluir a equipe. E Aroldo já estava ao telefone com ela...

- Dr. Hellen desculpe o horário, embora eu nem deveria pedir isso, já que é consciente que nossa profissão nos reserva surpresa desse gênero!

- Eu já estou a caminho doutor Aroldo! Estou indo o mais rápido possível.

- Estamos à sua espera. É um caso de morte violenta acidental. Pelo que já pude observar é um quebra-cabeças.

- Quebra cabeças é o meu passatempo preferido. Agora tenho que desligar como uma mulher da lei não posso ficar ao telefone no volante. Até já.

Quando ela desligou Aroldo soltou um leve sorriso. Ter a médica legista Hellen Lobato em sua equipe era um orgulho. Uma mulher sem precedentes em toda sua carreira. Muito perspicaz e ferrenha. Logo ela chegaria na praça em cima de um Scarpin preto e segurando elegantemente uma bolsa Carmens Stephens, que surpreendia pela infinidade de modelos diferentes com as quais ela aparecia.

Enquanto aguardavam-na, os outros profissionais já estavam mergulhados à procura de pistas e detalhes. O flash da câmera do fotógrafo se desdobrando em inúmeros ângulos no local deu um clima de seriado de investigação americano. Os investigadores reuniram algumas testemunhas que melhor souberam narrar o que viram mais cedo. Outros, por estarem sob efeito de drogas ou bêbados foram dispensados. Aroldo conversava com o escrivão ao pé de ouvido e conversava com um dos investigadores. Os policiais garantiam a preservação do local chamado “extensão da cena do crime” já determinado minutos antes pelos peritos. Nada podia passar despercebido. Todo detalhe era fundamental. A Bíblia encontrada foi recolhida cautelosamente e preservada. A equipe era boa e com destreza e sabedoria já desvendaram muitos crimes, no entanto, o crime da praça da Sé era diferente de todos os outros: um corpo abandonado, completamente nu, com a pele das costas arrancada e dois tiros.

 

Quinze minutos mais tarde e todo trabalho da equipe de Aroldo estava seguindo um padrão cauteloso. O que podia se observar claramente no rosto de cada um era uma enorme interrogação. De sobrancelhas arqueadas e alisando o bigode volumoso, Aroldo observava tudo em silêncio quando viu o Fox Prime Volkswagen frear violentamente chegando à local. O barulho chamou atenção de todos, fazendo-os girarem a cabeça em direção do barulho. Quando a porta abriu, as previsões de Aroldo se cumpriram. Embora fosse quatro horas da manhã, Hellen apareceu radiante e pronta para uma festa. Enquanto caminhava até a aglomeração, vestiu o jaleco branco e prendeu o cabelo com uma caneta. Retirando os brincos enormes, aproximou-se de Aroldo e à guisa de bom dia falou:

- Então, vamos lá! Eu já estou aqui!

- Eu poderia ser duro com você doutora Hellen. Mas sua elegância é injusta conosco! Disse Aroldo ainda alisando o bigode.

Hellen riu enquanto se virava para começar a analisar o corpo no chão. Antes, claro, chocou-se com a cena.

- Meu Deus! Exclamou hesitante.

- Não me diga que está surpresa doutora? Perguntou Aroldo aproximando-se de Hellen. Ao lado dela era parecia um pinguim.

- Os anos me deram experiência, mas não me arrancaram a emoção chefinho! - Respondeu em um suspiro longo. – Então vamos lá, é para isso que estamos aqui!

Hellen vestiu as luvas e acendeu sua lanterna, pois a luz do dia ainda estava longe de raiar. Andou a redor da área isolada cautelosamente. Cerrando o cenho aplicava uma profunda atenção ao corpo caído no chão a um metro dela. Qualquer coisa que acontecesse ali ao redor seria incapaz de arrancar atenção da profissional. Virtude que adquiriu na faculdade de medicina. Para muitos Hellen era uma patricinha metida que não falava com ninguém por pura soberba. Mas por dentro daquela jovem calada e centrada, existia apenas uma menina aplicada que não queria decepcionar os pais nos estudos. Filha de um renomado cirurgião plástico e uma juíza, Hellen cresceu sob a pressão de se exemplar e se tornar tão boa quanto eles. O pai morreu antes que ela concluísse a faculdade, por isso, na expectativa de que ele estivesse olhando ela de algum canto do além, seu profissionalismo era algo crucial em sua regra de vida profissional. Os olhos de Hellen metralhava cada detalhe do corpo rondando-o como um predador. Havia detalhes que só os olhos treinados de Hellen poderiam enxergar. Com a lanterna focou os braços da vítima e agachou examinando-os com uma pinça.

- O que encontrou Hellen? Perguntou Aroldo, que acenou para o investigador se aproximar.

- Os dois punhos estão com escoriações. Marcas como se tivesse sido amarrado... – Hellen correu a vista dos punhos até os ombros e continuou, - As duas escápulas estão aparentemente deslocadas.

O investigador não hesitou em opinar.

- Será que ele não foi puxado por uma corda amarrada nos braços? Isso explicaria as costas escalpeladas!

Hellen mordeu os lábios e silenciou por uns instantes. Todos olhavam para a médica. Gostariam de saber o que passava pela cabeça dela. Hellen logo concluiu:

- Pouco provável. Aliás, eu diria que podemos descartar essa hipótese. Essa pele foi arrancada com uma lâmina afiada. Pelo que posso observar o ferimento não tem resíduo de quaisquer matérias. O ferimento está limpo e o corte foi feito por lâmina é o que concluo.

Todos voltaram a olhar para o corpo no chão. Imaginavam como um ser humano seria capaz de um ato tão bárbaro. Os requintes de crueldade dos quais os muitos crimes eram cometidos hoje, surpreendia a equipe de Aroldo constantemente. Mas este caso em especial parecia ter uma nuvem sobrenatural de mistério envolvendo tudo. Poucas coisas haviam sido apuradas. Aroldo juntamente com a Guarda Civil já havia pedido ao CET , Companhia de Engenharia de Tráfego responsável pelo monitoramento de São Paulo, as imagens das câmeras mais próximas do local. Um levantamento em todas as delegacias seccionais para saber se deram alguma entrada de pedido de buscar por alguém com as características da vítima também já havia sido providenciado. A equipe trabalhava com muitas perguntas e poucas provas ou evidências. Estava muito difícil. Um verdadeiro quebra-cabeça montado com perfeição.

- Quem fez isso, fez bem feito. Mas não seria mais fácil desovar esse corpo em um lugar mais inóspito? Porque logo a Praça da Sé? Questionou um dos investigadores fazendo todos pararem.

Hellen olhou a fundo para o corpo sem vida diante dela. Ela tinha um instinto natural por mistérios. Não era a toa que amava a profissão. Descobrir as causas de mortes através das pistas que o corpo deixava lhe fascinava. Mas aquele até então parecia não lhe falar muita coisa. Poucas horas antes aquele corpo estava cheio de vida. Seu dono estava aflito e impaciente, mas conseguia manter uma serenidade exterior. Apenas seus olhos o denunciavam.

- Filho não temas! Uma voz aveludada lhe aconselhou.

Ele ouvira muito essa frase na semana. E todas as vezes ela saiu da boca do homem que estava sentado a sua frente fitando-lhe os olhos. Seu nome era padre Thomas Bertiolli, pertencente a Ordem Beneditina. Um senhor de 46 anos, olhos negros, cabelos ralos e faces corpulenta. Esse padre tornou-se a figura de um pai além de confessor particular daquele jovem. O padre o havia conhecido numa missa na Catedral da Sé. Era domingo, quando o sacerdote entrou na imensa catedral muito antes de todos. Ao caminhar pela nave central em direção ao altar mór notou a figura desgastada do jovem que chorava próximo a uma cruz. Aproximando-se dele pós a mão em seu ombro, mas rispidamente o jovem se afastou e levantou em direção à saída.

- Eu conheço essas lágrimas meu rapaz. Disse o padre com grande compaixão na voz. O jovem de repente se deteve e não conseguiu sair do lugar. – São lágrimas de arrependimento!

O jovem rapaz engoliu a seco e voltou-se para o padre.

- O que você sabe de mim padre? Perguntou com voz esganiçada.

- Eu não sei nada. Mas Ele sabe! Respondeu o pe. Thomas erguendo a vista para o alto.

O jovem rendeu-se. Sentou no banco e soltou as lágrimas sem hesitar com a presença do padre.

- Queres conversar? Perguntou o sacerdote que lhe estendeu a mão e partiram para um canto da igreja.

A longa conversa durou pouco mais de uma hora. O jovem aflito tinha um bom coração. Abertamente falou ao padre de sua vida nos últimos cinco desde que ingressara em uma opressora seita secreta do qual desejava se afastar o quanto antes possível mas tinha muito medo das consequências. Desse dia em diante os encontros não pararam. Em todos os encontros os dois faziam crescer uma relação de confiança e carinho. O jovem era mais um católico que após o Crisma abandonou a igreja e aventurou-se por uma vida longe da comunidade cristã. Nessa aventura conheceu a sedutora sociedade que lhe atraiu. Cresceu fora e dentro da roda de membros da mesma sociedade. Na companhia do padre Thomas e seus conselhos, estava absolutamente decidido a sair da irmandade. Essa decisão estava tomada após sair do banho aquela noite. No entanto estava tenso, pois tinha plena consciência do que lhe poderia acontecer. Envolto com uma toalha se sentou na cama.

- Tome. Vista essa roupa. Odre novo para vinho novo lembra? Disse o padre tentando lhe confortar com um afável sorriso entregando-lhe roupas limpas.

O rapaz deu um sorriso forçado. Vestiu-se ali mesmo.

- Padre, eles são muitos e estão por toda parte.

- Deus é um e está em mais lugar que eles. Porque você deveria temer? Crer em Deus ou nesses homens?

O rapaz se calou. Thomas sempre conseguia lhe silenciar com frases como esta.

- Eles podem fazer muito mal a mim.

- No entanto o maior mal eles fizeram a você meu filho. Ainda lembro-me de como lhe encontrei na igreja. Deus é contigo filho!

Somente as palavras de Thomas lhe davam forças. Ele estava decido a procurar o líder da irmandade e renunciar ao título de membro. No entanto o maior motivo de sua decisão ele ainda não havia contado ao padre. Mas consciente que a Irmandade viesse a desconfiar de seu ato de renuncia, pediu ao padre lhe fizesse alguns favores. No quarto onde estavam, o sacerdote guardava um porão secreta. Sob o assoalho de madeira do cômodo, tendo como entrada uma portinhola no chão, o padre tinha um local particular de oração. Quando o barulho da cidade eclodia era para lá que o padre se refugiava. Nessa sala a pedido do rapaz dias antes, o padre Thomas guardou uma valise com algo do conhecimento somente de seu dono. O padre obedeceu as recomendações do jovem a respeito do sigilo do conteúdo.

- Padre, quero pedir um favor. Estou indo ao encontro deles decidido no que devo fazer. Eu não sei o que poderá acontecer lá. – O rapaz retirou uma pequena agenda do bolso – Ligue para o primeiro número agendado na letra C.

O padre levantou o olhar da agenda e o encarou com estranheza. Uma pontada de dor lhe atravessou a alma sem um motivo aparente. Thomas era um sacerdote muito espiritual mas pela primeira vez desejou que aquela dor que sentia não fosse uma espécie de aviso.

O jovem se levantou da cama, vestiu um suéter cinza que o padre lhe trouxe e saiu do quarto seguido pelo sacerdote que estava silencioso e com o pensamento distante. Ele seguiu os passos do rapaz até a sala. Parou e ficou olhando o rapaz abrir a porta. Fazia pouco tempo que os dois tinham se conhecido, mas para Thomas aquele rapaz lhe preenchia muito a vida, de modo que olhava com orgulho para os avanços que sem dúvida foi responsável por fazer no rapaz. A porta rangeu, o rapaz olhou para a rua e depois sorriu para o padre.

- Bem, preciso ir. Disse olhando o para o alto procurando pela lua.

- Já passavam da meia noite, irá procurar eles esse horário? Respondeu Thomas indo até a porta e repetindo o mesmo gesto.

- Temos reunião mensal essa madrugada. Ocasião mais que perfeita para dar a boa notícia a eles. Respondeu o jovem pesaroso.

- É sempre pela madrugada não é?

- Sim.

- O horário que o demônio zomba de Cristo!

O momento da despedida foi muito caloroso. O abraço que trocaram certamente foi o mais forte que já deram no outro. Algo no coração do rapaz anunciava que aquele seria o ultimo abraço em seu pai espiritual.

- Padre, eu fiz uma grande obra.

- E ainda fará muito mais filho! Tenha certeza.

- Não padre. O senhor vai entender. Só lhe peço, dê livre acesso a quem procurar por aquilo que o senhor escondeu para mim no porão. Somente eu e o senhor sabemos. Se outro alguém vir atrás, entregue. Estará dando para a pessoa certa. E também não se esqueça de ligar para o número que lhe falei.

Disse isso saindo pela porta, mas antes de descer os pequenos degraus Thomas lhe chamou.

- Filho, não esqueça disso! – O padre então lhe entregou um livro, - Sua Bíblia! Não se esqueça dela. Nunca!

Ao descer os degraus, andou alguns metros pela calçada abraçando a Bíblia ao corpo. Pensava como se levantaria na reunião e anunciaria seu desligamento. Era necessário fazer isso. Pois imaginava que com essa atitude a Irmandade pudesse relevar a renuncia. Havia a possibilidade de simplesmente fugir. Mas bem sabia que pelas ligações que o grupo tinha no país o resultado dessa atitude seria trágica. Estendendo a mão pediu parada a um taxi. O taxista era um senhor moreno, de cabelos brancos e sorriso largo.

- Boa noite!

- Leve-me até Osasco. Disse o rapaz entrando no carro.

Assim que acomodou-se no banco ao lado do motorista, sentiu alguém agarrar-lhe por trás e cobrir sua narina com um pano molhado. Ainda tentou resistir, e mesmo que fosse forte o suficiente para pelejar uma batalha corporal, pouco-a-pouco sentiu as forças esvaírem à medida que um odor alcóolico invadiu suas narinas. Logo um efeito analgésico tomou-lhe conta dos braços, os olhos arderam e lacrimejaram... Tudo embaçou e segundos depois perdeu a consciência. Se bem usado, o clorofórmio tinha poderes extraordinários.

- Siga imediatamente para a Praça da Sé! Disse o homem que agarrou o rapaz.

Era de estatura mediana e sua aparência anêmica assustava. Era sombrio e tinha um olhar frio. Após acomodar o corpo do jovem no banco de trás, sentou-se ao lado do motorista e acendeu um Djarum Black. Seguiu todo o percurso tragando um cigarro após o outro.

Assim que abriu os olhos recobrando a consciência após um profundo sono tentou discernir o local que estava. Isso só foi possível alguns minutos depois. A vista estava embaçada. De braços para trás e os punhos amarrados, ele havia sido dependurado com uma corda presa no teto a uma roldana. Ele não sentia mais os braços. E uma dor descomunal pesava sobre os ombros e as costas. Certamente seus braços estavam deslocados por ter que suportar todo o peso do corpo a quatro palmos do chão. Este método de tortura muito usado na idade média pela inquisição católica chama-se o Pêndulo. A ideia é fazer do julgado um pendulo humano exposto a inúmeros castigos aplicados pelo inquisidor. À medida que a organizava os pensamentos a visão do rapaz pode desvendar as imagens embaçadas que via. Havia um burburinho na sala. Era uma reunião da irmandade. Ao redor dele treze homens vestindo uma capa preta, capuz branco e segurando uma lamparina judaica.

- Tertia quae cardebant! Saudou o mestre de cerimonia que adentrou o circulo pisando firme.

- Fides et servitute! Respondem uníssono.

Muitas vezes eles já se reuniram, mas o local que se encontravam nessa ocasião era inédito até então. Um quarto com dez metros quadrados e quatro de altura. Apenas tochas pelas paredes de concreto. Um forte cheiro de cimento estava impregnado no ar. Ao fundo uma porta de duas abas na cor vermelha e entradas de ar nas laterais. Estaria tudo mergulhado em um profundo silêncio se não fosse um barulho metálico contínuo e uma espécie de jato de pressão que se ouvia ao longe. O mestre da cerimonia caminhou ao centro do circulo até uma pira que foi acessa por um assistente quase que simultaneamente. Após acender sua lamparina na chama, repassou a chama ao mais próximo de si e assim um após o outro acenderam a lamparina.

- Caros, apenas um motivo nos trás aqui essa noite! Um motivo que deve ser tratado com urgência e severidade. Todos nós estamos conscientes de nossa condição dentro dessa irmandade. Juramos voto de sigilo a respeito de nossas movimentações e membros. O mundo não está preparado para nós. No entanto, este a quem vemos é alvo de uma denúncia grave.

Aproximou-se do jovem e o cuspiu.

- Este é acusado do pior crime que poderia cometer contra nossa irmandade... traição! Ouçam, este homem ameaça os planos da irmandade!

O rapaz sentia a cabeça doer. Os braços dormentes pesavam. Ademais tinha a sensação que não sobreviveria a tudo aquilo. O homem continuou com um tom frio.

- Chegou a nós a notícia que pensas em abandonar a irmandade. Isso procede?

O jovem não respondeu. O homem retirou debaixo da capa um chicote e despachou dois golpes contra o rapaz. E continuou:

- O que falas a respeito dessa acusação?

- Não preciso falar nada! Respondeu o jovem.

Os estalos do chicote na pele do rapaz ecoaram na sala. Foram sete golpes seguidos, aplicados com muita força. No entanto, o rapaz já não tinha força para expressar qualquer dor.

- Não há nada que esteja oculto que não venha ser revelado! Disse o jovem com um punhado de forças que conseguiu externar.

- O que falastes? Questionou o homem de forma ameaçadora.

Um dos que estavam no círculo aproximou-se do centro estendendo ao homem a Bíblia que o jovem trazia.

- É um versículo desse livro...

- Ora, vejam! A Bíblia! Agora és cristão meu caro? Disse com tom irônico e aplicando mais um golpe com o chicote.

- Não há nada que esteja escondido que não venha a ser revelado!

- Chega! – Bradou o homem – Chega! O que pensa que está fazendo? Pensa que foi trazido aqui para nos evangelizar? Assuma o que nos interessa! Planeja delatar os planos da irmandade se desligando de nós?

Um silêncio sepulcral dominou a sala. Pensaram que o rapaz não iria responder, mas começou sussurrar.

- A minha grande obra será responsável por isso... a minha grande obra...

- Do que está falando?

- A minha grande obra... a grande obra...

O homem irou-se e vociferou:

- O que queres dizer com isso?

- Ele está delirando! Sugeriu um dos presentes.

Após alguns segundos de silencio o homem rondou o corpo do rapaz dependurado. Observou as tatuagens que lhe cobriam todo o corpo. Muitos dos desenhos ele conhecia. Eram deuses da mitologia grega, templos e representações de afrescos da Grécia.... Todos os desenhos seguiam a mesma temática. Aquele rapaz era um apaixonado pela mitologia grega e pelo visto havia feito disso o tema de todas suas tatuagens. O homem se deteve observando o grande templo de Atenas tatuado nas costas do rapaz circulado de minúsculas inscrições em grego.

- Imagino que ele esteja brincando conosco. Arranquem toda a pele das costas dele! Ordenou pausadamente.

A ordem foi recebida com um imenso susto pelos outros. Mas foi imediatamente cumprida. O carrasco desceu a corda. O rapaz pode sentir o sangue circular em seus braços. Sentiu uma dor ainda maior enquanto era amarrado em outra posição. De joelhos ficou com os braços amarrados para cima. As costas estavam indefesas para o que veio em seguida. O carrasco colocou na chama da pira uma adaga afiada. Após esquentar a lamina, puxou a pele das costas do jovem e começou a fazer um cauteloso corte retirando a pele desenhada. Tudo isso aconteceu embalada pela sinistra trilha sonora dos gritos desesperados do jovem que fora abafados em seguida com uma mordaça. O mandante daquela tortura inexplicável se aproximou de um dos presentes, a segunda pessoa mais importante na reunião e sussurrou ao pé do ouvido.

- Não tem como deixa-lo vivo.

- Se ele sobreviver a isso mate-o e lance o corpo onde achar melhor.

Exatamente dessa forma a vida começou a abandonar o corpo do rapaz. Em seguida, foi transportado para fora do local. Uma van o esperava de portas abertas. O mandante escolheu dois dos companheiros e adentrou no veículo. Na cintura, colocou uma pistola SigSauer, quase imperceptível pelo tamanho. Antes efetuou uma ligação e partiram. A um dos passageiros foi dado um mapa com uma linha vermelha que indicava uma trilha bem programada que findava na Praça da Sé. Hellen estava nesse exato momento onde a linda vermelha do mapa apontava como o final e observando aquele corpo tatuado continuava tentando imaginar o que havia acontecido com ele.

- Chefe, o Deic já entrou em contato. O levantamento feito não aponta para o pedido de busca a nenhum tatuado nesses dois dias. Informou um dos investigadores vindo de um ponto da praça com o celular na mão.

- Um quebra cabeça! Droga! Vamos abrir um inquérito e continuar com as investigações. E você o que me diz Hellen?

- Vamos empacotar o corpo e levar para o laboratório enquanto é cedo. Acredito que esse corpo ainda tem muito a me dizer!

Essa realmente era a intuição da médica. Hellen tinha um faro sobrenatural. Enquanto recolhiam o corpo, a médica observa as outras tatuagens que estavam na zona frontal do corpo. Ela de imediato reconheceu o deus Dionísio interagindo com alguns sátiros tatuado na barriga do rapaz. O desenho disputava espaço com outra figura que Hellen também conhecia. Era Aquiles matando um prisioneiro de Troia, releitura de um vaso do fim do século IV a.c. Hellen namorou um professor de História da USP e inúmeras vezes disputou a atenção com os livros de Daniel, esse era seu nome. Não obstante a isso, e para não ficar entediada, resolvia acompanha-lo no estudo. Assim, aprendeu muito sobre a mitologia grega e seus vários personagens. Mas um desenho em especial lhe chamou atenção antes de fechar o zipe do bolsão onde estavam depositando o corpo do rapaz.

- Esperem um pouco! Ordenou Hellen atraída pelo desenho.

Uma esfinge egípcia? A figura desenhada no punho estava legendada com uma citação. O traço leve e claro, a fez concluir que o desenho era recente e estava inacabado. Não era uma grande descoberta. Na verdade era muito irrelevante para qualquer um, menos para o instinto detalhista de Hellen.

- O que foi doutora? Encontrou alguma coisa? Perguntou Aroldo.

- Nada. Bobagem minha.

Hellen estranhou pelo fato de ser o único desenho que fugia à temática dos demais. Enquanto todo o corpo era tatuado com deuses e representações gregas, a figura do punho pertencia a uma mitologia completamente oposta, a mitologia egípcia. Havia uma única esfinge na mitologia grega, um demônio exclusivo de destruição e má sorte, de acordo com Hesíodo, uma filha da Quimera e de Ortros. Mas a figura desenhada não estava no padrão grego. A esfinge tatuada era o conhecido monumento de Gizé, um leão deitado com cabeça de águia. Além do mais, a figura recordava outra coisa a Hellen. Uma lembrança bem infantil. Quando criança não perdia um episódio do RáTimBum, um programa de TV voltado para as crianças e que obteve grande sucesso. No programa um quadro apresentado por uma esfinge fazia charadas aos espectadores assim como é representada em sua cultura... E se isso for uma espécie de charada esta tatuagem? Esse pensamento invadiu a mente de Hellen imediatamente. Parecia irracional e ilógico que a tatuagem da esfinge quisesse dizer alguma coisa a respeito do caso. E embora Hellen quisesse descartar essa possibilidade pela falta de lógica, não conseguiu.

- Podemos fechar o bolsão doutora?... Doutora?... Doutora Hellen estou falando com você! Protestou o investigador agachado ao lado de Hellen que fitava o corpo da vítima com um olhar distante.

- Calma – Disse Hellen, - Você que está de óculos, por favor, leia essa frase debaixo do desenho da esfinge no punho do periciado.

O investigador estranhou, mas não hesitou em obedecer ao pedido da médica. Aroldo suspirou observando a cena com olhar reprovador. Mas não interveio na ação de Hellen.

- “Sois sábios! Que as marcas de meus pés te mostrem o primeiro passo.” Recitou o investigador e continuou, - Tertia!

- Tertia? Repetiu com estranheza.

- É o nome que está entre chaves debaixo da frase. Deve ser o autor! Sugeriu o investigador.

- Tertia... Tertia... Nunca ouvi falar.

- Mas deve ser nome de algum pensador mesmo. Esses nomes sempre são esquisitos. Esopo, Platão, Nagel... Enfim, eu não me surpreenderia com um chamado Tertia!

Enquanto o investigador falava, a frase lida por ele ecoava nos pensamentos de Hellen. Ela insistia em encontrar uma lógica para lhe garantir que seu instinto não estava errado e a citação realmente quisesse lhe dizer algo mais. Olhava para o punho da vítima encarando o desenho da esfinge. Que as marcas.... pés... te mostrem... primeiro passo... será? Antes que pudesse se convencer do contrário, seus olhos percorreram o corpo do jovem e se deteve em uma única tatuagem no pé esquerdo. As marcas dos pés! Hellen não gostava de duvidar de si mesmo por isso o vestígio de desconfiança que lhe acometeu naquele instante lhe incomodou profundamente. Aproximou-se da tatuagem do pé esquerdo cuidadosamente isolado de todas as outras. Era uma sequencia de pequenas palavras em alguma língua desconhecida e outra subscrição traduzindo o inscrito. Hellen não teve tempo de averiguar profundamente o desenho quando Aroldo se aproximou.

- Hellen será que já podemos ir?

- Claro que sim. Só estamos colocando o corpo no bolsão.

Naquele instante a atenção de todos foi atraída por uma pequena equipe de TV que chegou ao local já apontando a câmera como uma arma. A repórter, uma magrela, loira e com cara de sono estendeu um microfone para Aroldo e disparou uma porção de perguntas. Aroldo se contorceu incomodado com a situação. Para ele equipes de TV era a coisa mais detestável em um ambiente daqueles.

- É cedo para falar alguma coisa! – Acenando para os policiais – Não quero que façam imagens!

Os policias partiram amistosos para cima do cinegrafista que já estava próximo demais do cadáver fazendo filmagens e pediram que desligasse a câmera. Negando-se a obedecer, começaram um bate boca. Um protesto sobre liberdade de imprensa foi travada entre a repórter e Aroldo instantaneamente. Um pequeno tumulto com ameaça de ordem de prisão ouvia-se ecoar na praça que já começava a receber sinais de vida da população que levantava cedo pra trabalhar.

Aproveitando a ocasião Hellen agiu por instinto. Retirou seu celular do bolso e tirou uma fotografia do pé da vítima. Fez isso de forma sorrateira, enquanto o investigador que lhe ajudara se levantou para ajudar amenizar o tumulto. Após prometer uma coletiva sobre o caso pela manhã cedo, a equipe aquietou os ânimos e o motim foi desfeito sem grande consequências para ambos os lados.

- Pronto podemos ir! Podem colocar o corpo na ambulância! Ordenou Hellen se levantando como se nada tivesse ocorrido.

- Doutora Hellen – Disse Aroldo se aproximando esfregando a mão na fronte aliviado – seja rápida com a necropsia do periciado. Precisamos de resultados mais precisos já que aqui não tivemos grandes avanços.

- Não se preocupe. Eu já estou indo aqui direto pro IML.

- Isso é ótimo!

- Esta Hellen não deixa serviço para depois! Disse dando de ombros – Como falei já estou indo pro IML. Diga para o motorista de a ambulância tentar chegar antes que eu. Aposto! Sorrindo entrou no carro.

Hellen deu partida no carro e saiu dirigindo com os pensamentos voltados para as duas tatuagens do rapaz. Se aquilo era uma charada ou não ela descobria assim que decifrasse o segundo desenho. Ela realmente começava acreditar que a segunda tatuagem quisesse dizer alguma coisa. Retirando o celular do bolso, diminuiu a velocidade, e ficou observando a foto. Eram onze pequenas palavras e abaixo delas a frase que tudo indicava ser uma tradução: Primeira de Abrão e única minha, sigam suas pegadas e estarão no caminho certo! Hellen tinha alguém que poderia ajuda-la para saber se a inscrição em outra língua estava realmente traduzida na segunda frase. Anexou a foto, que apesar da rapidez que foi tirada ficou com uma boa qualidade, a um e-mail e enviou para uma pessoa de sua confiança.

 

 

 

 

 

 

 

 

O jovem professor de História da USP Daniel Amorim acordava cedo para cumprir a dura jornada de seu dia. Já trabalhava na USP havia dois anos e ainda não tinha se acostumado com aquela rotina. Sempre acordava resmungando como uma criança preguiçosa querendo aproveitar mais alguns minutos na cama. O celular sempre lhe acordava ao som de Beatiful Day de U2, sua banda preferida. A verdade é que a musica escolhida lhe servia de uma espécie de mantra para convencer-lhe que o dia realmente seria bom. Como um zumbi se arrastou do quarto até o banheiro. Na frente do espelho assustou-se com a visão de todas as manhãs. Os cabelos ruivos desgrenhados, a barba por fazer e as entradas de calvície ameaçando fazer-lhe um completo careca em poucos anos. Os olhos castanhos claros herdados da mãe era seu charme, embora eles nunca tenham prendido ninguém por muito tempo. Estava solteiro e traumatizado com uma tentativa de matrimonio a algum tempo atrás. Morava só em um apartamento na zona norte de São Paulo. Essa era uma informação dispensável uma vez que a bagunça de seu apartamento falava por si só. Daniel já despontava nos seus trinta e dois anos, sua maior preocupação não era constituir família. Ele tinha um espirito jovial demais para isso e uma vaidade sufocante.

Após tomar um banho rápido e preparar uma caneca de café solúvel, seguiu para o computador que já o esperava ligado desde a noite anterior. Sentou-se na cadeira com desconforto. No dia anterior tinha cumprido a ultima sessão de uma tatuagem que fez na região lombar. Loucura da maturidade, como ele justificava. Abrindo sua caixa de e-mail a primeira mensagem tinha caráter urgente e sua remetente era um tanto inesperada. Hellen Lobato? O último e-mail que recebeu dessa remetente foi cobrando um livro de parasitologia que ela havia esquecido em seu apartamento. Os dois tiveram um namoro de três anos, culminando em um noivado, mas sabotado pela agenda que os dois tinham de cumprir diariamente. Os encontros se tornaram mais raros na semana, as ligações seguiram o mesmo ritmo até quando se encontravam mais pareciam estranhos procurando assuntos para tentar salvar o relacionamento. Mas as tentativas foram em vão com as constantes brigas que tinham. No entanto, o fim da relação foi amigável. Só não se permitiram ter uma exímia amizade pelas agendas que ainda atrapalhavam os dois.

Assim que abriu o e-mail pode observar a foto de uma tatuagem. Era uma inscrição que ele logo reconheceu. Passou a mão no celular que estava ao lado do computador. Havia muito tempo que ele não procurava na agenda o número de Hellen. Logo que encontrou efetuou uma ligação, afinal queria saber o que ela pretendia com aquilo.

- Hellen?

- Sabe que sou eu Daniel. Recebeu meu e-mail? Apressou-se ela em perguntar.

- Sim eu recebi, mas não entendi nada. Porque me mandou aquela tatuagem?

- Queria que traduzisse a frase que estava em outra língua. Imaginei que você pudesse conhecer.

- Sim conheço. É grego.

- Grego? Repetiu surpresa.

Daniel aquiesceu. Hellen deu um pequeno soco no volante do carro. Impressionante! Mais um desenho que seguia a temática das outras tatuagens. Isso reforçava mais ainda a ideia da estranha presença da esfinge egípcia no corpo do rapaz. Sem hesitar perguntou:

- E o que quer dizer?

- Bom, dizer não diz muita coisa. São apenas números.

- Números?

- É uma sequencia numérica. Éna, éna, tría, tría, dyo, penté, eptá, okto, míden, tría e éna.

- Pode traduzir?

- Um, um , três, três, dois, cinco, sete, oito, zero, três, um. Perdoe-me minha intromissão Hellen mas o que isso quer dizer?

Como uma projeção os números se materializaram nos pensamentos de Hellen.

- Hellen – Disse Daniel – Pode me explicar o que quer com essa tradução?

- Daniel é difícil de explicar, mas essa tatuagem está no pé de um rapaz assassinado hoje na Praça da Sé eu imaginei que pudesse ser uma espécie de pista.

- Uma tatuagem?

- Eu só queria saber se a inscrição em baixo dela era algum tipo de tradução. Outra coisa Daniel, conhece ou já ouviu falar de algum filósofo ou pensador chamado Tertia?

Daniel não conseguiu prender o riso.

- Tertia? Nunca ouvi falar! E olha que de pensadores nessa história eu conheço bem...

Houve um silencio na linha. Nesse meio tempo Daniel sentiu coragem de questionar.

- Então me manda um e-mail pela manhã cedo para apenas traduzir uma frase no pé de um defunto e se informar a respeito de um pensador de nome esquisito? Conta outra Hellen...

Daniel e sua pretensão masculina imaginavam que na verdade Hellen estava usando um simples pretexto para entrar em contato e se aproveitou de uma tatuagem no pé de um morto para isso. Para ele um pretexto mais que desonesto.

- Você já foi mais honesta Hellen.

- Como assim Daniel?

- Eu não posso acreditar que só quer mesmo a tradução dessas palavras gregas.

- Acredite. E desde já agradeço imensamente ajuda. Se cuida! Desligou o telefonema.

O tom de sarcasmo de Hellen evidenciou que ela havia sacado as insinuações de Daniel. Por outro lado, ele desligou o celular com um sorriso vitorioso no rosto, pois realmente acreditava que Hellen o havia procurado com segundas intenções. Ele ainda esperava uma segunda chance com ela.

 

 

 

Hellen agora tinha nas mãos uma sequencia de números. E a imagem perdurava na sua mente:

11332578031

Uma senha? Número de algum documento? Além dos números a frase, que descobriu não ser uma tradução, levantou mais questionamentos ainda. Em um lapso uma ideia lhe ocorreu. A imagem dos números na mente se organizou da seguinte maneira:

11 33257-8031

Um número de telefone? Hellen repetiu para si o que pensou, tentando afastar com o bom senso a possibilidade dos números serem mesmo o telefone de alguém. Não havia alternativa senão tentar. Discou o número e levou o telefone ao ouvido. Chegou até a se achar ridícula por estar fazendo aquilo, mas sentia profundamente que deveria fazer. E para sua surpresa a ligação começou a chamar. Um estalo em seguida certificou que alguém atendera a chamada.

- Alô, quem fala? Uma doce voz de mulher do outro lado da linha se adiantou em falar.

Hellen prendeu a respiração sem saber o que dizer. Estava muito surpresa e confusa. Poderia ser uma grande coincidência ou a porta para decifrar o caso. Para tirar a dúvida soltou o ar e falou.

- Aqui quem fala é Hellen Lobato. Com quem eu falo?

- Sarah Régia em que posso ajudar?

Primeira de Abraão e única minha... Sarah! A primeira parte da frase abaixo da tatuagem fez um enorme sentido. Hellen não era uma mulher muito religiosa, mas sabia que Sara tinha sido a primeira esposa de Abraão segundo a narração bíblica. Agora estava claro para Hellen que tudo aquilo não passava de uma simples coincidência. A esfinge no punho aguçou seus sentidos propondo uma charada que induziu a outra charada, no pé do rapaz, e surpreendentemente levou-lhe a um numero de telefone do qual o nome da dona correspondia a charada abaixo dos números. Meu Deus, não é possível. Hellen estava muda na linha.

- Alô? Liga para mim esta hora da manhã para não falar nada?

- Desculpe-me – Disse Hellen atordoada – Não sei por onde começar. Só sei que a forma que cheguei ao seu número é surpreendente. Se não acreditar em mim vou entender. Preciso somente que me ouça!

- Estou fazendo isso não?

- Sou uma médica legista e perita policial, nossa equipe foi acionada hoje pela madrugada porque encontram um homem morto com dois tiros na Praça da Sé. Esse número de telefone estava codificado em uma tatuagem e faz clara referencia ao seu nome. Imagino que pode nos ajudar a desvendar o caso Sarah.

- Como assim? Do que você está falando? Isso é um trote não é?

- Não, não é. Poderei lhe explicar com mais clareza, mas estou no transito no momento. Diga-me apenas, conhece alguém com um corpo todo tatuado com desenhos gregos? Deuses, afrescos, palavras...?

Houve um silencio sepulcral do outro lado da linha.

- Bem, conheço uma pessoa que pode se encaixar nessas características.

- Quem?

- Meu ex-namorado. Mas o que isso tem haver?

- Não posso afirmar ao certo, mas certamente foi ele a quem encontramos morto na Sé. E ele tinha essa tatuagem com o seu número de telefone. Pode vir me encontrar?

- Onde você está?