QUARTO CAPÍTULO

16/05/2013 23:32

 

QUARTO CAPÍTULO

 

Minutos depois, a pressa da delegada Letícia caminhando pelo corredor que levava ao laboratório de necropsia do IML demostravam claramente que ela estava decidida em fazer algo. A placa com a inscrição LABORATÓRIO NECROPSIA na porta a sua frente era o motivo de sua procura. Ela já sabia o que deveria encontrar ali dentro, afinal, pediu para Hellen que preparasse o corpo do periciado para que outro médico fizesse o exame. No entanto, o rapaz que lhe acompanhou até ali não estava usando jaleco nem tampouco vestia roupas brancas. O quepe, a fada cinzenta, as botas, a bandeira do estado de São Paulo e o emblema da polícia na manga de sua blusa denunciavam a verdadeira ocupação do rapaz.

- Policial Lucas, entre comigo!

Lucas gesticulou positivamente com a cabeça. Era um jovem de estatura mediana, usando a farda característica da Policia Civil. Assim que os dois entraram no laboratório, se depararam com um corpo. Lucas ao ver o cadáver torceu o rosto e desejou sair logo do local. O cheiro forte de formol estava lhe irritando. Letícia, no entanto, nem parecia se incomodar com o cheiro nem tão pouco com o cadáver. Pelo contrário, cerrou o cenho e aproximando-se do cadáver examinou por alguns pouquíssimos segundos. Logo uma expressão de estranheza lhe tomou a face.

- Esse não é o corpo que procuramos! Exclamou enfurecida.

- Como sabe? Disse Lucas tapando o nariz com a mão.

- O corpo que procuramos está repleto de tatuagens!

O cadáver diante deles era de um sexagenário corpulento, careca e com cabelos na orelha. A vontade de Letícia era de esbravejar, mas se conteve cerrando o punho e mordendo com força. A cena assustou Lucas. Uma mulher com a personalidade de Letícia admite tudo, menos ser enganada. Seus interesses nesse caso tinha íntima relação com o cadáver tatuado, mas agora a almejada procura pelo corpo tinha sido sabotada por alguém que certamente previu suas intenções. Na mente da delegada a figura de Hellen se materializou fantasmagoricamente.

- Eu sei quem fez isso. – Disse circulando num mesmo lugar - E fez para nos atrasar.

- De quem a senhora está falando delegada?

- Vamos rápido. Temos que encontrar a doutora Hellen!

Letícia liderou uma corrida obstinada pelo corredor do laboratório. Ao passar pela porta da sala mais próxima do laboratório que estavam, lembrou-se de ter visto Hellen por entrar naquela sala. Com força girou a maçaneta e tentou abrir a porta, mas não obteve sucesso. A porta estava trancada.

- Droga! Vamos atrás dela, antes que saia do prédio.

Letícia e Lucas continuaram a corrida pelos corredores do IML sob os olhos curiosos de funcionários. A cena era incomum naquele lugar. Antes que pudesse chegar ao hall de entrada, no entanto, esbarraram com um funcionário e seu carrinho de limpeza. O estrondo do carrinho caindo no chão assustou os que estavam no local.

- Saia da minha frente com essa droga! Berrou Letícia levantando do chão procurando equilibrar-se sob seu salto alto.

O pobre funcionário em vão tentou pedir desculpa, pois foi desprezado pela delegada que continuou sua corrida.

- Alguém viu a doutora Hellen? Perguntava a delegada a quem pudesse responder.

A secretária da recepção olhou por cima dos óculos e levantou-se da cadeira abraçada a uma revista de fofocas. Ela estranhou toda a movimentação no ambiente que até então estava mergulhado em uma paz absurda.

- Sabe me dizer se a doutora Hellen Lobato ainda está no prédio? Perguntou Letícia antes que a secretária pudesse falar alguma coisa.

- Ela saiu agora pouco...

- Quanto tempo mais ou menos?

- Há uns cinco minutos! Respondeu ela sem entender nada.

Letícia estava convencida que a atitude da médica em esconder o verdadeiro cadáver de David tinha algo muito suspeito. Parando na entrada do prédio retirou o celular do bolso, digitou um número e após esperar alguns segundos sua chamada foi atendida.

- Lucas entre em contato com a delegacia e peça duas viaturas com urgência ao nosso encontro. - Virando-se para um guarda que se aproximou do tumulto disse com o mesmo tom imperativo – Leve-me agora até a central de monitoramento de vocês!

- Desculpe minha senhora, mas é necessário uma autorização...

O guarda não completou a frase. Letícia sacou o distintivo e estendeu a alguns centímetros do nariz do homem. Ele pode ver claramente o emblema da Polícia Civil de São Paulo.

- Letícia Monteiro Sobrinho, delegada da Polícia Civil. Isso é uma ordem!

O guarda ficou pálido e engoliu a seco. A rapidez do incidente na recepção com o faxineiro não o havia permitido observar aquele rosto já conhecido nas colunas policiais dos noticiários. No mesmo instante pediu para que ela o acompanhasse e a conduziu pela escada até o segundo andar. O guarda retirou o rádio da cintura.

- QAP Central... Disse após um grave chiado vindo do rádio.

- Segue pra central! Disse uma voz rouca.

- Quero as imagens do estacionamento nos últimos vinte minutos! Resmungou Letícia sem olhar para o guarda.

- Temos uma QTC, estou subindo com uma delegada que deseja ver o circuito de imagens copiou? Falou o guarda pelo rádio após ouvir a delegada.

- Positivo!

Letícia acompanhava o guarda com passos firmes. Sua intenção era ver as imagens do estacionamento para anotar a placa do carro de Hellen e em seguida comunicar ao CET para rastrear a movimentação do veículo pelo sistema de monitoramento da capital. Seu sangue fervia e uma única coisa tinha em mente: capturar Hellen.

 

 

 

 

 

Há alguns quilômetros dali Hellen estava na direção do seu Fox Prime Volkswagen com um único objetivo: se afastar o máximo possível da delegada. Tinha saído da Sede do IML, que ficava na Avenida Eneias de Carvalho Aguiar 151, e pegando a Rua Teodoro Sampaio seguiu até entrar na Avenida Dr. Arnaldo no sentido centro.

- Doutora para onde está me levando? Estou começando a ficar assustada. Disse Sarah olhando para Hellen que tinha os olhos fixos na pista.

A rota já estava traçada na mente da médica.

- As coisas estão tomando uma proporção que eu não imaginava.

- Porque diz isso doutora?

- A investigação da morte de David foi tirado da minha equipe de uma maneira descabida, sem apresentar uma justificativa.... Isso não é normal. Você não sabe, mas quando estava na minha sala a delegada que agora toma conta do caso disse que a mãe e a irmã do cadáver tinha aparecido!

- Impossível! Exclamou Sarah.

- Eu sei disso. – Aquiesceu Hellen – Isso é muito estranho. Diga-me Sarah o que David fazia da vida?

Sarah lançou um olhar no horizonte e acomodou-se no banco de passageiro. Hellen deu um olhar de relance para jovem e voltou a fazer a pergunta. Sarah suspirou antes de responder.

- David é dono de um estúdio de tatuagem muito famoso, sua vida se resumia a se dedicar aos seus clientes. E ele tinha clientes famosos inclusive.

- Sabe se ele tinha inimigos ou era envolvido com alguma coisa, não sei...?

- Ele não era um homem de inimigos, pelo contrário, nunca ouvi alguém se queixar de David. Era uma pessoa maravilhosa.

- Não é estranho que uma pessoa maravilhosa tenha sido morta de forma tão cruel?

Hellen parou o carro por conta do sinal vermelho e só então pode encarar Sarah que cerrou o cenho avaliando a pergunta da médica.

- Isso é realmente estranho doutora. Mas hoje as pessoas matam por nada.

- Da forma que ele foi assassinado eu não diria que foi uma morte motivada pelo nada. – Hellen encarou Sarah – Eu acredito que tem mais coisa nessa história e nós só estamos no meio do caminho. Assim como estamos paradas nesse sinal, eu penso que paramos em você, e assim como o sinal vai abrir agora, devemos seguir a outro ponto. Sarah, David fez uma trilha. Precisamos somente decifrar o que ele quis dizer com seguir suas pegadas.

 O sinal abriu e Hellen acelerou o carro. As duas estavam pensativas e caladas. O celular de Hellen tocou. No visor um número que não estava agendado. O transito estava tranquilo, e embora não gostasse de fazer aquilo, não hesitou em atender.

- Alô?

- Você não deveria ter feito aquilo doutora!

Impossível não reconhecer a voz. Hellen imediatamente soube quem estava falando. Era a delegada Letícia certamente ligando porque já percebeu a troca do corpo.

- Eu lhe prometo que ninguém sairá com a carreira prejudicada se colaborar comigo.

Hellen apertou a tecla send com força e segurou por alguns segundos até o visor do celular escurecer por completo. Pronto, o celular estava desligado.

- Agora eu tenho certeza que há tem mais coisas escondidas nessa história. Disse Hellen vidrando os olhos na avenida.

- Você ainda não disse para onde estamos indo doutora.

- Vamos terminar de decifrar essa história com a ajuda de alguém...

 

 

 

 

 

 

 

A sala de monitoramento do CET, mais parecia a sala de controle de operações da NASA, com uma muralha de monitores de LED dispostas diante de uma mesa com inúmeros botões operados por alguns funcionários atentos a tudo que se passava nas telas. As imagens diante deles vinham dos quatro cantos da cidade de São Paulo. Ruas, avenidas, cruzamentos, túneis, nada escapava das lentes atenta das câmeras de engenharia de tráfego. A principio a finalidade da companhia era somente monitorar e fiscalizar o tráfego daquela grande metrópole. No entanto, a primeira missão mais incoerente com os princípios da companhia já tinha sido ordenada minutos antes.

Na sala a ilustre visita do tenente Josuel Machado em seu dia de folga, assustou os engenheiros de plantão naquele turno. Ele entrou na sala na companhia de um homem impecavelmente bem vestido e com uma postura disciplinada. Além de faxineiros, engenheiros e policiais não era comum a visita e cavalheiro como aquele.

- Meus caros esse é Bernardo de Campos, novo secretário de infraestrutura do Estado que veio nos visitar. Desculpem-me não ter avisado antes, porque até eu fui pego de surpresa. – Riu desconcertado – Mas como já conheço Bernardo de priscas eras sei que a situação não lhe incomoda não é?

Os engenheiros riram enquanto se levantavam para um aperto de mão com a autoridade ali presente. As xícaras de café, carteira de cigarros, revistas e celulares sumiram instantaneamente do local de forma sorrateira.

- Eu que peço desculpa de não terem sido avisado com mais antecedência. Na verdade não pude esperar mais tempo para vir olhar o trabalho de vocês, pois sei que há necessidades nesse setor e nós juntamente com o governador queremos rapidamente aplicar investimento que melhorem esse precioso trabalho! Disse o visitante com uma dicção impecável.

Os engenheiros aquiesceram animados com o que ouviram. Mas não foram notados pela ilustre visita que agora retirava o celular do bolso e lia a seguinte mensagem:

 

Fox Prime Volks MKD 9879-78

Rua da Consolação s/ Centro

Prata, enorme adesivo do Corinthians e nome O SENHOR É MEU PASTOR.

 

Após ler a mensagem, ele olhou para Josuel e balançou a cabeça positivamente. Os dois esperavam por aquela mensagem fazia alguns minutos. Imediatamente Josuel tomou a frente e pigarreou.

- Outra coisa quero informar-lhes. Essa visita de Bernardo não é simplesmente uma visita qualquer. É uma auditoria. Os demais podem se retirar e nos deixem somente com o responsável por este horário.

A notícia não foi recebida com nenhum pesar por eles, exceto para o sortudo engenheiro que comandava as atividades no horário matutino. Seus olhos brilharam vendo os companheiros saírem da sala desejando também estar de partida com eles. Assim que restaram somente os três na sala o clima mudou imediatamente.

- Abra todas as câmeras da Avenida Doutor Aguinaldo até a Rua da Consolação e imediações! Ordenou o visitante com um tom brando.

Sem questionar o engenheiro lançou mãos no teclado a sua frente e em seguida as imagens dos televisores a sua frente foram mudando.

- Aqui estão!

- Meu caro, preciso de sigilo e descrição da sua parte. Nada do que está vendo aqui pode ser comentado lá fora, está entendendo? Disse ainda pousando a mão no ombro do engenheiro.

- Qual carro está procurando? Perguntou Josuel sentando em uma cadeira e oferecendo outra para Bernardo.

- Um Fox Prime Volkswagen com a placa MKD 9879-78! Precisamos rastrear toda a movimentação deste veículo! - Respondeu Bernardo deslizando a cadeira de rodinhas para mais próximo do painel. – Ah, e tem uns detalhes. No vidro de trás tem a frase “o Senhor é meus pastor” e um adesivo do Corinthians! Bem grande por sinal!

O engenheiro riu.

- Isso é uma missão difícil, principalmente para um palmeirense como eu!

Os três riram amigavelmente. Embora o engenheiro não estivesse entendendo absolutamente nada não ousava questionar uma vírgula das ordens que recebeu mesmo que sua piadinha tivesse amenizado o clima. Bernardo uniu as mãos e apoiou os cotovelos na mesa tomando cuidado para não apertar nenhum botão. O celular ele posicionou cautelosamente a alguns centímetros dele e não mais tirou os olhos das imagens a sua frente. Alguns poucos minutos silenciosos depois o engenheiro pareceu avistar o alvo na tela.

- Se é um Fox Prime que vocês estão procurando aí está ele espalhando a devoção corintiana! Disse o engenheiro apontando para o telão central.

Bernardo tratou de pegar o celular digitar uma mensagem rapidamente.

Já estamos monitorando o veículo. Faça sua parte!

Ass. Camillo Coelho

Agora estamos no controle! Para a pessoa que ele estava enviando a mensagem não precisava esconder sua verdadeira identidade. Apesar de ter sido uma atitude extrema para sua estirpe, entrar no CET se passando por outra pessoa foi necessário e as pessoas que viabilizaram isso nunca contestariam as ações da ABIN.

 

 

 

 

 

 

Daniel estava com a cabeça a mil, com fim de período na USP. Nas ultimas semanas tinha sido o alvo preferido dos alunos que passaram o período se divertindo e que só agora perceberam que para passar precisavam de notas. Daniel era incorruptível. Boas propostas financeiras haviam chegado a ele mesmo assim ele não se deixava seduzir. Na verdade toda essa situação ele poderia se aproveitar de outra forma: torturando os alunos com a frase “eu avisei vocês o período todo!”.

De boné preto para esconder as entradas de calvicie, uma camisa xadrez vermelha e alisando o cavanhaque na frente do espelho estava ele se preparando para sair de casa e correr para USP com tempo suficiente de chegar antes dos alunos e se esconder na sala dos professores. O telefone da sala começou a tocar e ele saindo do banheiro passou pelo quarto pegou sua mochila para sair de casa depois de atender a chamada.

- Alô?

- Seu Daniel? Aqui é da portaria!

Era a voz rouca do porteiro do outro lado da linha. Impossível não reconhecer a voz que ouvia todas as manhãs ao passar pela portaria do prédio.

- Pode falar Reginaldo!

- Tem uma visita aqui na portaria que deseja ver o senhor agora.

- Quem gostaria?

- É a doutora Hellen! – Disse ele sussurrando com um tom sarcástico – Não acredito que não vai receber ela!

- Mas o que a Hellen quer comigo essa hora?

- Eu não sei, mas pela cara dela deve ser algo muito importante. Ela está acompanhada.

- Diga que já vou descendo, pois já estou de saída pra faculdade.

- Ok.

Daniel desligou baixou telefone e sorriu. Ele ainda tinha tempo suficiente para mandar Hellen subir para saber o que ela desejava. Mas achou que se fazer de difícil seria mais interessante para a ocasião. Muitas foram as vezes que correu atrás de Hellen, e agora estar com ela a espera dele na portaria do prédio seria bom fazê-la passar pelo mesmo papel.

 

 

 

 

 

 

Hellen estava no carro na portaria do prédio próximo à guarita de segurança. Fazia um bom tempo que ela não visitava aquele local. A última vez ela lembrava bem inclusive. Afinal na ocasião havia prometido para si debaixo de lágrimas nunca mais pisar ali. Foi o dia que terminou o noivado com David. Contradizer-se voltando para o prédio era mais doloroso que a lembrança daquele dia fatídico. Se por um lado, por motivo de lembrança era incomodo Hellen retornar àquele lugar, para Sarah por não ter motivo ou lembrança alguma, era mais incomodo ainda.

- Esse lugar me trás péssimas lembranças! Exclamou afundando no banco do carro.

- E onde estamos doutora?

- É aqui que mora Daniel, meu amigo que traduziu do grego o seu número de telefone.

Sarah estendeu o pescoço para olhar o prédio que se erguia a sua frente. Na janela da guarita do prédio estava um senhor bigodudo com um sorriso largo que a poucos minutos antes disse que Daniel estava descendo para a portaria. Ele olhava curioso para as duas. Instantes depois o portão do condomínio abriu e a imagem de David com uma mochila, de boné preto, camisa xadrez vermelha e uma calça jeans azul bem surrada deixou claro para Hellen que seu ex-noivo não havia mudado nada. Ainda era um despachado e jovial professor universitário de sempre. Ele se aproximou sorridente e debruçou-se sobre a janela do carro.

- Isso é o que eu chamo de surpresa! Hellen Lobato na porta da minha casa numa terça pela manhã!

Hellen forçou um sorriso amigável, mas não convenceu a ninguém que presenciou o sorriso amarelo que apareceu no seu rosto. O tom de Daniel era provocativo, mas ela não estava com saco para responder a altura, pois sabia que logo uma discussão seria travada. Sua missão ali estava bem definida e não abria oportunidade para brigas.

- Daniel estou precisando mais uma vez de um favor seu! Entre no carro.

- Mas é muito urgente?

- Sim, é muito urgente Daniel.

Ele estava desconfiado embora não quisesse desperdiçar a oportunidade de entrar no carro de Hellen e partir pra qualquer lugar que fosse. Em seus pensamentos aquela seria a oportunidade de lançar mais uma investida em Hellen, mas a presença da moça que ele viu no banco de passageiros colocava tudo a perder.

- Quem é a amiga aí do lado?

- Se você entrar nesse carro você vai ficar sabendo.

- Não sei não Hellen. Já estou indo pra faculdade. Estamos no fim de período e você sabe como é isso.

Hellen se contorceu no banco. Ela já havia percebido que Daniel estava colocando dificuldade para não entrar no carro ou estava forjando um charme para mostrar que era difícil.

- Você pensa que eu nasci ontem Daniel? Você só dá aula a partir das duas da tarde. Ainda não são onze horas. Acho melhor você parar esse joguinho e vir comigo. Porque não pense você que estar aqui lhe implorando um favor seja uma situação agradável. Se eu realmente não tivesse um bom motivo e, de certa forma, não confiasse em você eu não estaria aqui.

Daniel retraiu os lábios, aquiesceu olhando para o lado e não teve alternativa. Entrou no carro sem protestar.

- Pronto! – Disse acomodando-se no banco traseiro – Estou aqui. Pode usar e abusar.

Sarah ficou envergonhada. A cena toda tinha deixado claro para ela que os dois tinham algo mal resolvido entre eles. Em vão ela tentou esconder um sorriso sem jeito no rosto.

Hellen deu partida no carro com uma expressão de exaustão. Já era muito difícil aguentar os joguinhos de Daniel quando eram noivos, agora então era algo insuportável. Pelo menos ela conseguiu o que queria ao contrário dele que estava contrariado por dentro por ter sido mais uma vez desdobrado pela perspicaz médica dos seus sonhos.

Hellen dirigiu o carro até uma cafeteria mais próxima. Entrou no estacionamento privativo para clientes e convidou-os a descer.

- Quero logo adiantar que você me pegou desprevenido! Disse ele precavendo Hellen de sua condição financeira.

Hellen deu uma olhada de relance sem demostrar surpresa com a situação de Daniel. Lembrou-se em que certa ocasião foi a um luxuoso restaurante e ela teve que no fim de tudo pagar a conta porque ele esqueceu a carteira em casa. Até hoje ela não sabia se a história do esquecimento era verdade ou somente uma estratégia de sair da responsabilidade de pagar a gorda conta que fizeram no local.

 

 

 

 

 

 

 

- Hellen acabou de estacionar próximo a uma cafeteria no centro! Disse Letícia tirando os olhos da tela do seu aparelho Nokia Lumia.

Policial Lucas estava atento na estrada na direção da viatura da polícia. Do seu lado estava a delegada muito apreensiva. Letícia era o tipo de mulher que não gostava de decepcionar a si próprio. Estava totalmente determinada a encontrar Hellen não somente pelo ocorrido no IML. Mas porque acreditava que a médica tinha informações preciosas a respeito do caso. Só assim justificava a atitude de trocar os corpos no laboratório. Letícia tinha um olhar observador e pelas poucas observações que ouviu a médica colocar mais cedo na conversa teve a certeza que Hellen não era ingênua.

- Precisamos então informar a localização também para a segunda viatura. Sugeriu Lucas.

Letícia pegou o rádio da viatura e levou até a boca. Ela entrou em contato com a viatura que tinha pedido mais cedo e informou detalhadamente um ponto em comum para se encontrarem. Eles deveriam arquitetar perfeitamente uma forma da médica não escapar.

- Lucas acelere esse carro! Ordenou Letícia.

Lucas obedeceu imediatamente. Dali a poucos minutos os dois estariam chegando ao local exato onde Hellen estava. A todo o momento o Nokia Lumia da delegada recebia mensagens seguras fornecendo informações precisa de como agir. Ela não estava só nessa ação e confiava nas pessoas que estavam do seu lado.