SEXTO CAPÍTULO

20/05/2013 16:44

 

SEXTO CAPÍTULO

 

Letícia e o policial Lucas estavam na minúscula sala de câmeras da cafeteria. Junto com um segurança e o gerente. A frente deles quatro monitores. Um deles tinha uma imagem congelada do estacionamento externo. Letícia estava ao telefone aguentando contra vontade a insatisfação do homem do outro lado da linha.

- Ela estava em suas mãos minha cara. E você a deixou escapar entre seus dedos como água!

- Eu sei... Concordou ela pesarosa com o que ouviu.

- Espero que já saiba o que fazer. Eu estou confiando em você nessa missão. Esta mulher está um passo a nossa frente, temos que colocar as mãos nela rápido.

Letícia fitou o olhar na imagem congelada no televisor a sua frente.

- Eu já sei como agir. Estou diante de uma imagem que pode ajudar. Disse ela tramando algo em mente.

A imagem mostrava um homem de boné preto, camisa xadrez, usando uma mochila e segurando uma bolsa de cor carmim sem muito jeito de fazer aquilo com costume. Ele abria a porta de um carro prata com um enorme adesivo do Corinthians no vidro traseiro. A imagem foi frisada no exato momento que tinham o mais amplo ângulo do seu rosto. Ele usava um cavanhaque. Ao narrar o que estava vendo para o homem no telefone tudo já estava tramado.

- Nós sabemos a quem pertencem esse carro e essa bolsa. – Disse o homem ao telefone - Extraia dessas imagens um bom close e vamos divulgar nos noticiários a nosso favor que estamos a procura desse homem!

O tom sinistro do homem era assustador. Letícia concordou, pois aquela era a mesma ideia que tinha em mente. Ao desligar o telefone seu dedo já discava o número de uma equipe de TV sensacionalista para dar seguimento ao plano de divulgação das imagens de estacionamento.

 

 

 

 

 

Quando o Coronel Camillo saiu da sala de monitoramento do CET na companhia Josuel Machado, sua expressão mostrava descontentamento. Estava inquieto e distante ao mesmo tempo. Josuel seria capaz de jurar que na cabeça de Camillo haviam tortuosos pensamentos.

- Está tudo bem Coronel?

- Sim, está. – Respondeu forçando um sorriso – Josuel meu caro, sou grato pela sua contribuição conosco.

- Não precisa agradecer. Eu que me sinto honrado em poder ajudar. Embora eu não saiba direito do que se trata sei que se ABIN está envolvida era para um grande bem em nosso favor.

- Acredite que sim meu amigo. Quero contar com seu mais absoluto sigilo. Mantenha-me informado em relação a movimentação desse veículo.

- Sim senhor. Quanto a isso não se preocupe.

Camillo conferiu o relógio no pulso e arqueou as sobrancelhas ao ver que já passavam do meio dia. A vida de um coronel que comanda uma organização como a ABIN não é tão divertida como o cinema mostra os a vida dos agentes norte-americanos na CIA. O dia estava sendo corrido e a tensão que envolvia todo o caso que ele estava se empenhando em resolver começara a lhe tirar a paciência. Até que ponto aquele assunto poderia exigir mais absurdos de sua parte além de entrar ali com uma identidade falsa era o que ele se questionava. Pela primeira vez ele se enxergou na linha tênue entre chefe e subordinado. Ele já não sabia mais o que era.

- Vou lhe acompanhar até a porta. Disse Josuel arrancando Camillo de seus pensamentos.

- Eu ficaria grato. Respondeu com mais um sorriso forçado.

Após um aperto de mão, Camillo se despediu de Josuel, entrou num Gol vermelho discreto e viu o prédio do CET se afastar dele conforme acelerou o carro. Seu celular tocou. A chamada não poderia ser mais incomoda possível. O número era de um dos agentes da ABIN que ligava de Brasília. Seu nome era Simão, um CDF de carteirinha e de alta confiança de Camillo.

- Pode falar, Simão. Disse com o telefone ao ouvido.

- Coronel eu fiz o que o senhor me pediu. – Simão pausou – Mas por precaução fiz de um modo diferente...

Camillo diminuiu a velocidade do carro e ouviu atentamente.

- O senhor queria que eu grampeasse o celular de Kléber. Mas pensei bem e cheguei a conclusão que se usássemos os meios que temos na agência certamente ele ou qualquer outra pessoa poderia desconfiar. Isso seria um tanto perigoso, já que o senhor me pediu o serviço mais discreto possível.

- Então o que você fez?

- Ao invés de colocar mais agentes para espionar do modo convencional, eu baixei um aplicativo de espionagem de celular muito discreto e consegui instalar ontem a noite no celular de Kléber.

- Isso não é muito mais perigoso?

- De modo algum! – Exclamou Simão – Esse aplicativo se chama SpayBublle. É simples e eficiente.

Camillo nunca tinha ouvido falar na tal ferramenta. Mas deu um voto de confiança para ouvir sobre este aplicativo. Simão tinha um tom de voz estridente e o uso de aparelho ortodôntico lhe forçava a falar como uma criança com a língua presa. Muitas vezes era divertido ouvi-lo, principalmente naquele momento em que mais parecia um garoto de treze anos contando as façanhas de um jogo de vídeo game. 

- Uma vez instalado no celular que deseja grampear não há nenhuma maneira de descobrir que o SpyBublle está no telefone. Ele fica completamente invisível e indetectável. Não emite sons, nem ícones ou qualquer outro sinal que denuncie sua presença. Silenciosamente o software monitora e grava todas as atividades do telefone como chamadas, agenda telefônica, mensagens de texto, fotos enfim... Em seguida ele envia todas as informações para um servidor que armazena tudo para você. Inclusive na versão mais recente pode ouvir e gravar todas as ligações efetuadas do telefone, gravar o som ambiente e ainda localizar a pessoa pelo Google Maps. Não é impressionante?

- Assustador. Como posso então ter acesso a essas informações?

- Esse é o barato da história. Você pode acessar as informações de qualquer computador do mundo desde que tenha acesso à internet! Tudo isso através de uma conta no site do SpyBublle. E isso eu já fiz para o senhor e estarei enviando o link do site e o login para que possa acessar. Eu fiz isso pensando na sua comodidade e o sigilo absoluto que deixou claro para mim que isso exigia. O senhor mesmo pode ter acesso as informações a qualquer hora sem precisar contatar os agentes da ABIN e levantar suspeitas! Fiz mau chefe?

- De maneira alguma!

- Eu presumo que o senhor tenha um notebook correto?

- Elementar Simão! - Respondeu olhando para a valise do seu lado onde estava guardado seu computador pessoal. – Envia para mim agora o link e o login por favor meu caro.

- Em quarto, três, dois... Enviada! Já está na sua caixa de e-mail coronel.

- Simão eu lhe agradeço.

Camillo desligou o celular e estava eufórico para conhecer as funções do SpyBublle. As funções desse programa eram perfeitas para o que ele pretendia fazer. Havia sido formado um circulo dentro de um circulo de segredos que envolvem as ações da ABIN. Ele estava mantendo Kléber longe e ao mesmo tempo perto dele. Aquele agente tinha sido alvo de denuncias no ultimo mês. Algo tão sério que Camillo resolveu lançar mão em uma investigação quase que particular temendo que Kléber seja apenas a ponta de um imenso iceberg. E era obvio que as ações da Irmandade estavam envolvidas nisso.

 

 

 

 

 

 

O grande galpão no terreno do fundo de uma fábrica de gêneros alimentícios estava cheio de caixotes cobertos por lonas. O galpão era amplo e mal iluminado. Poças de água e muito entulho amontoados pelo chão era um lugar incoerente para as pessoas bem vestidas com ternos e roupas sociais que estavam ali diante dos caixotes. Ao todo quinze pessoas, em sua maioria homens, com a expressão surpresa. Muitos deles tinham sido convocados para uma reunião urgente a poucos minutos antes. Eles não sabiam o que seria tratado ali, até que o homem com um sorriso e olhar sinistro ergueu os braços e saudou:

- Tertia, quae cardebant!

- Fides et servitute!

Após a uníssona saudação um silencio pairou apreensivo. Todos se entreolhavam.

- Caros meus, a Irmandade está sob perigo ainda como consequência da atitude do nosso traidor. Disse o líder procurando encarar os presentes. -Todos se entreolharam. - Ele não está mais vivo, mas deixou muita coisa para trás. A verdade é que o nosso mais precioso segredo do qual esperamos ansiosos há sete anos, pode ser terrivelmente destruído se não nos apressarmos. A hora chegou meus caros.

- Você está falando do grande sacrifício? Perguntou uma senhora vestida de vermelho adornada de belas joias.

O homem aquiesceu.

- Devemos ser rápidos. Mais rápidos do que aqueles que intentam nosso mal. – Ele se virou para os caixotes – Eu planejei tudo. Nesses caixotes estão a antecipação da nossa glória, da imposição dos fortes sobre aqueles que são fracos... Uma sociedade de fortes é o que almejamos, não é verdade? Então é a nossa vez meus caros.

- E como isso se dará? Perguntou alguém.

- Confiam em mim? Ele falou dando de ombros e soltando um sorriso contido.

Todos silenciaram e um após o outro foi concordando com a proposta do seu líder. Era um homem que inspirava uma confiança e estranha paz.

- Hoje, ainda hoje, nossos objetivos serão alcançados.  Prometeu ele acendendo outro cigarro.

Após finalizar a reunião, dois caminhões entraram no galpão e foram carregados com aqueles caixotes. Tudo a vista dos homens e mulheres bem vestido ainda presente. Os caminhões partiram seguido pelo carro daquele que os atraiu até ali. No conforto de seu carro ele imaginava como tudo se aconteceria. Vislumbrava poder.

 

 

 

 

 

- Agora sim você está ferrada Hellen! Disse Daniel aborrecido enquanto dirigia o carro de Hellen. Sua esperança de ir pra USP tinham sido completamente destruídas. A pedido de Hellen ele agora estava dirigindo até o condomínio onde ela morava para tentarem decifrar a charada na tatuagem de Sarah.

Hellen, no entanto, não desgrudava os olhos da tela do seu celular, navegando de página em página atrás do mais claro significado do símbolo que estava no fim da trilha de pegadas nas costas de Sarah.

- Tríscele Celta! – Disse ela e continuou – É um símbolo muito relacionado com coisas místicas. Todos os sites que trazem referencia dele estão envolvido com wicca, bruxaria, ocultismo...

- E o eu você já descobriu sobre ele?

- É um símbolo indo-europeu, também conhecido como triskle, triskel, triskelion. Significa literalmente três pernas.

Daniel olhou de relance para a expressão confusa de Hellen.

- O número três é um número sagrado para os celtas sabia? É a base para a crença cosmológica do submundo, mundo intermediário e mundo superior.

Hellen voltou a olhar para a tela do celular.

- Tem razão. Este site está dizendo que na cultura celta este símbolo é dedicado a Manannán Mac Lir, o Senhor dos Portais entre os mundos. Exatamente estes que você citou. E que este símbolo também está ligado às representações de triplicidade.

- Bem típico para os celtas. Passado, presente e futuro. Corpo, mente e espírito. Primavera, verão e inverno... E por aí vai...

- Mas o que David queria realmente dizer com isso? Até agora eu não consegui entender nada! Disse Sarah que se esforçava para chegar a uma possível descoberta.

- Não esqueçamos a frase também. Pode ler novamente Hellen?

- Filho de André, em suas mãos está a revelação!

- Quem é esse filho de André? Questionou Hellen.

A pergunta calou os três dentro carro. Para Hellen aquela charada estava mais complicada do que as outras. Ainda não conseguiam nem de longe assimilar o desenho celta e seu estranho significado com a frase que também estava tatuada.

- Uma pessoa? Um lugar? O que ele quer dizer com isso meu Deus! Hellen estava seduzida com a charada.

- Teria sido mais fácil se ele tivesse deixado tudo escrito claramente sem ter que recorrer a esses métodos absurdos! Disse Daniel.

- Eu começo acreditar que ele codificou tudo porque realmente há algo muito estranho por trás de tudo. Do contrário ele não faria tanto mistério assim. Ele temia alguma coisa.

A observação de Sarah silenciou o ambiente mais uma vez. Hellen de súbito teve uma ideia.

- Espera um pouco... Primeira de Abraão e única minha... Com isso ele indicava o nome de Sarah. Com “Filho de André” pode ser que ele esteja fazendo um jogo semelhante não?

Sem esperar pela opinião de nenhum dos dois, Hellen voltou ao Google e digitou:

Significado Nome Filho de André

Instantaneamente o primeiro resultado veio indicado na página do Wikipédia.

- A forma patronímica Anderson, tem na sua etimologia o significado “Filho de André”... – Leu e em seguida olhando para Sarah disse – Se David estiver indicando um nome, esse nome é Anderson.

- Etimologia! Que rodeio para indicar um simples nome! Ironizou Daniel.

- Conhece alguém do ciclo de amigos de David que tem esse nome?

- Anderson? Não sei, é possível que tenha. Fica difícil afirmar.

Todos se entreolharam buscando um significado que relacionassem a Triskle Celta e o nome Anderson.

- Use o santo Google novamente! Sugeriu Daniel sem tirar os olhos da pista.

Apesar da clara ironia de Daniel, ainda cético e receoso com toda a situação, Hellen desprezou todas as ironias disparadas por ele. Mas aceitou em silencio a proposta e logo voltou a utilizar a ferramenta de busca. Fez três tentativas até parar e pensar por um instante. Ela deveria fazer uma combinação correta de palavras chaves. De repente, como se algo a iluminasse digitou as palavras:

Triskle Celta, estações, elementos, Anderson.

Suas palavras chaves foram digitadas ao longo alguns minutos compassadamente. Como uma teia de aranha intercalada por ligações a mente de Hellen trabalhava sugerindo pesquisas fantásticas. Após alguns instantes de silencio no carro, Hellen falou:

- Pode parecer sem sentido, mas tenho um resultado muito suspeito aqui! – Baixou os olhos para a tela do celular – “Sky House Night” é a atração mais esperada do ano na Boate Elementos em São Paulo!

- Boate Elementos?

Hellen estendeu o celular a poucos centímetros do nariz de Daniel e disse:

- Veja com os seus olhos essa foto!

Daniel lançou um breve olhar para a tela do celular e depois voltou a atenção para pista. Sacudiu a cabeça incrédulo e riu balbuciando inúmeras interjeições de surpresa.

- Isso só pode ser brincadeira!

Hellen ofereceu o celular a Sarah que teve reações semelhantes.

- Muita coincidência a fachada dessa casa de show ter exatamente uma Triskle Celta de LED?

Sarah aquiesceu lendo o resto do texto contido na página. Em certo ponto ergueu a voz:

- ... O proprietário Anderson Loureiro investiu pesado para trazer até sua boate as atrações mais badaladas do momento!

Um clima de surpresa invadiu o carro. As coisas haviam se encaixado. Se deveriam seguir as pegadas de Sarah, a tatuagem deixava claro que David queria mostrar alguma coisa naquela boate. O filho de André tem a revelação em suas mãos!

- Gente isso é irracional vocês não percebem? Uma boate! O que tem haver? Disse Daniel.

- Nós temos partido de suposições. E não descartamos até ter certeza. Sarah só está aqui porque a tatuagem supôs um numero que eu acreditei ser de um telefone. E veja era um telefone mesmo. Não custa nada saber se essa boate e esse Anderson tem alguma coisa haver. Disse Hellen perdendo a paciência com Daniel. Em seguida, pesquisou o endereço da Boate e chegou a um número de atendimento do qual logo fez uma chamada.

- Escritório Boate Elementos boa tarde! Alguém disse do outro lado da linha.

- Oi aqui quem fala é... Uma repórter do Jornal local. Eu escrevo para uma coluna voltada para baladas e música eletrônicas e gostaria de falar com o senhor Anderson Loureiro sobre esse evento tão esperado que estão fazendo.

- Ah, desculpe como é seu nome?

- Edna Alencar.

- Olha Edna, é meio complicado isso hoje. Você deve imaginar que estamos muito ocupados com todos os preparativos do evento. Mas vou falar com Anderson tá certo? Poderia deixar seu número de telefone para contato?

- Ah claro, anote. Hellen citou o número pausadamente.

Hellen só precisava chegar em casa, trocar de roupas e sair com eles em busca do que quer que fosse. Só mais um quarteirão e sobrando a esquina estariam na portaria do condomínio de Hellen. Mas ao fazerem a curva para chegarem ao destino, Daniel arregalou os olhos e pisou fundo no freio. Seus corpos de projetaram com força para frente. Hellen que não usava sinto de segurança livrou-se de chocar sua fronte ao vidro tomando apoio com as duas mãos no painel do carro.

- Daniel cuidado! Berrou ela.

Daniel estava mudo e pálido. Não tirava os olhos da cena há pouco mais de cinquenta metros do carro. Ao acompanhar a direção do olhar de Daniel, Hellen teve a mesma reação. Uma pequena fila de três carros se formou atrás deles buzinando intrepidamente. O motorista que passou pelo lado projetou o corpo pela janela e soltou um palavrão pesado. Os três passageiros nem deram atenção. O que assustavam eles eram duas viaturas da polícia e Letícia na portaria do condomínio.

A demora em tomar alguma atitude aflorou os nervos dos motoristas que formavam uma fila cada vez maior atrás do veículo e levantavam um clamor de insultos contra o motorista ao volante. Um dos policiais junto a Letícia olhou para cena com estranheza. Segundos depois, dando passos para frente e espremendo a vista reconheceu o veículo e voltou para junto de Letícia eufórico.

Hellen e Daniel viram Letícia se virar para eles e apontar dando ordens aos berros. Dois policiais lançaram-se dentro da viatura e deram partida fazendo uma curva para se virar para eles.

De súbito, Hellen segurou a mão de Daniel no câmbio e pisou no pedal de aceleração. O carro se projetou para frente com uma abrupta força. Largando o celular Hellen agarrou o volante com a mão esquerda e girou com força. O carro fez uma curva fechada chegando a erguer alguns centímetros do chão os pneus da lateral esquerda. O som gritante de derrapagem soou sinistro sob os olhares curiosos dos polícias e de Letícia vendo com surpresa a ousadia da manobra. Daniel ergueu as mãos como que rendido em um assalto. E mesmo estando sentado no banco do motorista Hellen estava na direção do carro com a expressão mais séria que ele já vira um dia. O carro parou dois segundos antes de acelerar e partir na contramão pelo mesmo caminho que veio.

Uma sensação gélida encheu o estomago de Daniel. Sarah apertou o cinto enquanto era embalada de um lado para o outro pelos movimentos do carro que trafegava em alta velocidade desvencilhando-se dos outros veículos na pista. Os outros motoristas se desviavam ou simplesmente freavam prontamente para evitar o pior.

- Você está louca Hellen! Berrou Daniel apavorado vendo em cada movimento uma iminente colisão com os outros veículos.

- Segura o volante! Segura o volante! Ordenava ela aos berros.

Tomando folego Daniel lançou a mão no volante e tomou a direção. Pálido, ele teve que continuar a insanidade de dirigir em alta velocidade na contramão. Hellen projetou o corpo por cima do banco olhando pelo vidro traseiro as duas viaturas da polícia que seguiam eles aproveitando o espaço que eles mesmos abriam com aquela manobra. As sirenes das viaturas berravam na corrida que se iniciou e parou a avenida. Um tumulto, curiosos pelas janelas do carro, pessoas absortas e celulares apontados para a cena surgiram como em passe de mágica.

- Nós vamos bater! Nós vamos bater! – Daniel começou a gritar gradativamente – Isso não vai dar certo! Não vai dar certo!

Ele tinha a convicção que o cruzamento mais adiante que levava a rua onde estavam resultaria num grave acidente. O que aconteceu em seguida foi projetado como em câmera lenta em sua visão. Um caminhão partiu do sinal que abriu à frente do carro. Hellen lançou o corpo sobre Daniel e segurou o volante com as duas mãos e girou à direita desviando-se com uma mínima distancia do caminhão. A buzina estridente do caminhão berrou ensurdecedora. Assim, o carro entrou na mão certa e continuou a corrida alucinante. Foi possível ouvir o suspiro de alívio dos três no carro.

- Você é louca! Louca! Disse Daniel rígido no banco do carro.

Hellen devolveu a direção a ele e voltou a olhar pelo vidro traseiro. A viatura havia ficado para trás. Mas sabiam que a distancia ainda era muito pequena. Apenas um atraso para ganharem tempo.

- Para onde vamos agora? Perguntou Daniel.

- Temos que abandonar o carro. Tenho certeza que ele está sendo monitora. A essas alturas a placa já deve ter sido anotada enfim... Não é seguro continuarmos nele.

Tomando becos e ruas, eles se dirigiram até o bairro da Liberdade. Andando devagar pelas ruas, encontraram uma simplória oficina mecânica.

- Já sei o que vamos fazer! Disse Hellen abrindo a porta do carro e saindo.

Daniel e Sarah ficaram olhando atentos ao que Hellen faria. Ela abriu o capô do carro e desconectou alguns ligamentos. Em seguida pediu Daniel para dar partida no carro. O veículo ameaçou sair do lugar mas em nada se moveu. Ele começou a entender as intenções de Hellen.

Um dos mecânicos após olhar curioso se aproximou de Hellen.

- Ajuda aí madame?

- Ah claro! A droga desse carro inventou de dar no prego logo agora que estou atrasada para meu trabalho! A gente vê as propagandas dessas porcarias na TV e acha que são indestrutíveis, carros perfeitos... Mas olha aí a prova!

O homem se debruçou sobre o motor e após verificar por poucos minutos constatou um problema gigantesco inventado por ele mesmo para tirar proveito da situação. Meneou a cabeça dizendo:

- Senhora nós podemos cuidar disso pra você.

Os minutos seguintes o mecânico deu uma redundante explicação para o problema que ele criou. Hellen nem prestou sua atenção a ouvi-lo. Apenas entregou a chave do carro e negociou o concerto. Um amigável aperto de mão selou o negócio quando Hellen se despediu e saiu na companhia de Daniel e Sarah alegando estarem muito atrasados.

- E vamos andar de que agora? Questionou Daniel caminhando próximo a Hellen.

- Ônibus. Neles seremos apenas mais um rosto no meio da multidão. Respondeu com tom de naturalidade.

Daniel verificou o relógio e balançou a cabeça negativamente. Adeus USP!